quinta-feira, 8 de março de 2012

As mais poderosas e as mais maltratadas






















Nós, mulheres sul-americanas, somos um paradoxo. Conseguimos os maiores níveis de participação política no mundo: como presidenta, primeira ministra, etc., mas, simultaneamente, somos as mais maltratadas e violentadas, temos o maior índice de gravidez na adolescência e a maior taxa de assassinato por gênero. Como isso é possível?  

E olha que a contradição não para por aí, logo que, a marca da desigualdade social vem de mãos atadas com o êxito econômico, isso tudo em plena crise mundial. De acordo com o jornal El País, 40% da população latino-americana está sendo governada por mulheres: Dilma Rousseff no Brasil, Cristina Fernánez na Argentina e Laura Chinchilla na Costa Rica. Não há dúvida de que estamos conquistando espaço no cenário econômico, intelectual e político, afinal, 53% dos estudantes universitários são mulheres, mas, será que toda essa conquista vem aliada a uma real liberdade e igualdade entre as partes?

Acredito que a pressão social que sofremos é tão forte que, mesmo tendo poder, não desfrutamos de um nível social de igualdade. E isso se deve a estrutura conservadora de nossas famílias e ao "papel" que devemos cumprir dentro delas. Por essa razão, o primeiro passo que devemos seguir é o da valorização. Afinal, se não nos damos valor, como outras pessoas poderão fazê-lo? 

Perseguir o caminho da ética, da educação, e do desenvolvimento intelectual nos fazem mas poderosas, mais seguras e mais preparadas. Na minha opinião, a liberdade, e uma igualdade real, só serão alcançadas quando todos enxergarem que não há distinção entre os sexos, somos todos, homens e mulheres, do gênero humano. 

O que vocês acham? Como poderemos ser livres, iguais e devidamente valorizadas? 

quarta-feira, 7 de março de 2012

A impressão profunda e duradoura

A genialidade de Albert Einstein como cientista é unanime. Conhecido mundialmente por formular a Teoria da Relatividade, Einstein possuiu um lado 'social' que, talvez, muitos desconheçam: foi um defensor dos direitos civis, pacifista, e até proclamador de idéias socialistas. 

Chegou a ser investigado pelo FBI sob a acusação de pertencer ao Partido Comunista, e foi tido como "inadmissível para os EUA" por aconselhar e ensinar uma doutrina anarquista. Está claro que ele não foi um homem como os outros, e dentro de sua personalidade fascinante, existe um lado que me cativa muito e que eu dividirei com vocês. 

No verão de 1930, ele escreve um texto cujo nome é: No que acredito. Nesse manifesto pela alegria, o cientista deixa transparecer que a magnitude da vida está naquilo que nossa mente não consegue captar. Em coisas que nos atingem indiretamente, devido à uma beleza arrebatadora e à uma magia deliciosa. 

"A emoção mais bela que podemos experimentar é o sentimento do mistério. É a emoção fundamental que está no berço de toda a verdadeira arte e ciência. Aquele que desconhece essa emoção, aquele que não consegue mais se maravilhar; ficar arrebatado pela admiração, é como se estivesse morto; é uma vela que foi apagada. Sentir que por trás de qualquer coisa que possa ser experimentada há algo que nossa mente não consegue captar; algo cuja beleza e solenidade nos atinge apenas indiretamente: essa é a religiosidade. Nesse sentido, e apenas nesse sentido, sou devotamente religioso".

A lição que eu tiro ao reflexionar em suas palavras é que: o importante na vida é acreditar em algo, nos deixar encantar pelos mistérios, pelo desconhecido, por aquilo que nos incita. A impressão profunda e duradoura que tive é que admirar-se e maravilhar-se ao apreciar algo, são essenciais para que a vela esteja sempre acesa. 

Gostaria de saber a interpretação de vocês com relação a esse post. Se quiser deixar um comentário eu irei amar! Fique completamente à vontade para expressar sua opinião, como e quando for desejado. 

terça-feira, 6 de março de 2012

Material X Imaterial: com qual você fica?

























A cada amanhecer eu penso: O que será de mim, e da minha vida hoje? Como devo proceder? Como devo amar, perdoar e ser humana? O que é mais importante: as coisas ou as pessoas?
Claro que, racionalmente, dizemos: as pessoas... Mas será que vivemos com essa prioridade? Prioridade esta de: amar ao outro antes de amar o que temos. 
Vida mesquinha e vazia, em que tudo se resume ao material: que estraga, se deteriora, que acaba. Será que um dia aprenderemos a valorizar o imaterial? Um beijo, um olhar, um sorriso... Que valem muito mais que um carro, ou uma casa. Devemos levar em conta que o sentimento de realização que buscamos incessantemente só é real quando nos sentimos amados. 
E qual o verdadeiro amor? O que nunca acaba e nunca muda. É o amor de Deus, que nos aceita e não nos julga como esse mundo cruel. Mas onde está o amor de Deus, senão no amor entre os seres humanos? Como é possível manifestar o amor verdadeiro? Eu acredito que somente através do sacrifício. Se você ama alguém, respeite essa pessoa, sirva essa pessoa, faça para ela o que você gostaria que ela fizesse para você. Parece simples, não?! Mas, quando nos vemos cara a cara com nosso próprio ego, nos enfraquecemos diante de nós mesmos. A prática do amor dói, nos prova, nos faz pagar o preço. Mas a recompensa de ser amado vale infinitas vezes mais. Por essa razão, procure praticar o amor com obras, e não apenas com palavras.

segunda-feira, 5 de março de 2012

Esta Suíça é um cemitério de sensações...


Seguindo um pouco a linha de postagem de ontem, resolvi postar outra carta de Clarice. Desta vez não se trata de uma carta formal, (dedicada ao presidente da república), mas sim, uma carta dedicada à suas irmãs. A carta foi escrita em 1946, (período em que a escritora morava em Berna - Suíça), e traz uma rica descrição sobre a percepção de Clarice com relação ao estilo de vida neste país. 

Berna, 5 de maio de 1946 - 4 horas, domingo. 

Minhas queridas:

É uma pena eu não ter paciência de gostar de uma vida tão tranquila como a de Berna. É uma fazenda. No domingo, como hoje, passou um grupo do Exército de Salvação, homens e mulheres cantando em coro, com voz bem calma e afinada, sem vergonha. Às vezes se veem camponesas, de alguma cidadezinha perto, vestidas com os trajes regionais, o rosto vermelho, honesto, com os olhos azuis - os olhos são tão honestos que nem parecem observar. E os camponeses com roupa de ombros estreitos, nariz corado. E o silêncio que faz em Berna - parece que todas as casas estão vazias, sem contar que as ruas são calmas. Dá vontade de ser uma vaca leiteira e comer durante uma tarde inteira até vir a noite um fiapo de capim. O fato é que não se é a tal vaca, e fica-se olhando para longe como se pudesse vir o navio que salva os náufragos. Será que a gente não tem mais força de suportar a paz? Em Berna ninguém parece precisar um do outro, isso é evidente. Todos são laboriosos. É engraçado que pensando bem não um verdadeiro lugar para se viver. Tudo é terra dos outros, onde os outros estão contentes. É tão esquisito estar em Berna e é tão chato esse domingo... Prece com domingo em S. Cristóvão. Mas a prática termina ensinando que jamais se deve no domingo ir de tarde no cinema, deve-se sempre ir de noite, porque se fica esperando pela noite... É o caso de hoje, embora não haja filme direito pra ver. Hoje depois do almoço fomos ver os ursos de Berna. Os ursos são o símbolo da cidade; quando se ia fundar a cidade encontrou-se um urso; isso foi considerado como bom augurio e ali mesmo fundou-se Berna, onde é agora Bärengraben, caverna dos ursos. É por um caminho muito bonito, ladeando o rio, que é mai sou menos raso, muito caudaloso e brilhante. Dá-se comida aos ursos e para eles ganharem comida eles procuram fazer gracinhas - gracinhas de urso... É muito bonito. Mas num domingo... Parece que num domingo a gente deve fazer coisas grandiosas. Por exemplo, eu ia passar um domingo com vocês. Esta carta é bestinha, é carta de domingo, soa a "ajantarado" e  a folga de empregada... e a mosca voando... Na verdade quando eu escrevo carta eu estou com um anzol compridíssimo cuja isca bate no Rio de Janeiro para pescar resposta. É um jogo sujo, esse de mandar qualquer carta para receber RESPOSTA. O pior é que vocês, com falta de tempo, reúnem dez cartas minhas e respondem em uma. 
Estou me lembrando de Marcinha: fui levá-la ao cinema Rex e comecei a errar caminho que não foi vida, de vez em quando eu via que estava entrando por um beco errado. A Márcia suportou tudo calada. E eu calada também, envergonhada. De repente Marcinha disse: titia, eu acho que você está bobeando...
Dando assim notícias de Marcinha, que é a flor mais preciosa do mundo, eu encerro a missiva de domingo e vou por a carta no correio, se estiver aberto, para pegar o avião de amanhã. Neste mesmo avião seguem uma carta para S. Clemente e outra para Silveira Martins, escritas ontem; botei ontem a data de hoje porque sabia que só iriam amanhã. Me abracem, queridas, sejam felizes sempre.


CLARICE

domingo, 4 de março de 2012

Senhor Presidente Getúlio Vargas


Clarice Lispector foi uma mulher à frente de seu tempo. Corajosa e dona de si. Colocava no papel sensações e sentimentos, questionamentos íntimos e sinceros. Com seu estilo singular, ela imprimiu personalidade e vida em seus livros, que parecem uma extensão de si. Apesar de nascida na Ucrânia, ela é considerada por muitos (me incluo nessa classe) como a maior escritora brasileira de todos os tempos. O que muitos desconhecem é que Clarice enfrentou um penoso caminho para sua naturalização. Por essa razão decidi publicar a carta (retirada do livro Correspondências-editora Rocco), que a jovem escritora (na época ela tinha 21 anos), escreveu para o então presidente Getúlio Vargas. 

Rio de Janeiro, 3 de junho de 1942.

Senhor Presidente Getúlio Vargas:

        Quem lhe escreve é uma jornalista, ex-redatora da Agência Nacional (Departamento de Imprensa e Propaganda), atualmente n´A Noite, acadêmica da Faculdade Nacional de Direito e, casualmente, russa também. 
       Uma Russa de 21 anos de idade e que está no Brasil há 21 anos menos alguns meses. Que não conhece uma só palavra de russo mas que pensa, fala, escreve e age em português, fazendo disso sua profissão e nisso pousando todos os projetos do seu futuro, próximo ou longínquo. Que não tem pai nem mãe - o primeiro, assim como as irmãs da signatária, brasileiro naturalizado - e que por isso não se sente de modo algum presa ao país de onde veio, nem sequer por ouvir relatos sobre ele. Que deseja casar-se com brasileiro e ter filhos brasileiros. Que, se fosse obrigada a voltar à Rússia, lá se sentiria irremediavelmente estrangeira, sem amigos, sem profissão, sem esperanças. 
        Senhor Presidente. Não pretendo afirmar que tenho prestado grandes serviços à Nação - requisito que poderia alegar  para ter direito de pedir à V. Ex.ª a dispensa de um ano de prazo, necessário a minha naturalização. Sou jovem e, salvo em ato de heroísmo, não poderia ter servido ao Brasil senão fragilmente. Demonstrei minha ligação com esta terra e meu desejo de servi-la, cooperando com o DIP, por meio de reportagens e artigos, distribuídos aos jornais do Rio e dos estados, na divulgação e propaganda do governo de V. Ex.ª. E, de um modo geral, trabalhando na imprensa diária, o grande elemento de aproximação entre governo e povo.
     Como jornalista, tomei parte em comemorações das grandes datas nacionais, participei da inauguração de inúmeras obras iniciadas por V. Ex.ª, e estive a mesmo ao lado de V. Ex.ª mais de uma vez, sendo que a última em 1º de maio de 1941, Dia do Trabalho. 
        Se trago a V. Ex.ª o resumo dos meus trabalhos jornalísticos não é para pedir-lhe, como recompensa, o direito de ser brasileira. Prestei esses serviços espontânea e naturalmente, e nem poderia deixar de executá-los. Se neles falo é para atestar que já sou brasileira. 
    Posso apresentar provas materiais de tudo que afirmo. Infelizmente, o que não posso provar materialmente - e que, no entanto, é o que mais importa - é que tudo que fiz tinha como núcleo minha real união com o país e que não possuo, nem elegeria, outra pátria senão o Brasil. 
        Senhor Presidente. Tomo a liberdade de solicitar de V. Ex.ª a dispensa do prazo de um ano, que se deve seguir ao processo que atualmente transita pelo Ministério da Justiça, com todos os requisitos satisfeitos. Poderei trabalhar, formar-me, fazer os indispensáveis projetos para o futuro, com segurança e estabilidade. A assinatura de V. Ex.ª tornará de direito uma situação de fato. Creia-me, Senhor Presidente, ela alargará minha vida. E um dia saberei provar que não a usei inutilmente. 

Clarice Lispector

sábado, 3 de março de 2012

Independentes... Será?


"A independência não é somente política. É, acima de tudo, independência mental e moral". Tais palavras foram proferidas pelo poeta Oswald de Andrad há 90 anos, (na Semana de Arte Moderna de 22), e cá entre nós, continuam extremamente atual.  Na época, o objetivo do grupo de escritores e pintores era defender uma arte nova, que incluía poesia e música, e atacava o conservadorismo e o academicismo da arte tradicional brasileira. O espírito renovador, presente nos "jovens" artistas chamava atenção para o futuro, e se inspirava nas vanguardas artísticas vigentes na Europa. O Brasil buscava um renovo, uma transformação que deveria metamorfosear âmbitos morais, mentais e comportamentais; e valorizar a identidade nacional. Será que, após 90 anos, conseguimos alcançar esses ideais?

Somos verdadeiramente capazes de valorizar e apreciar a cultura brasileira? É triste admitir, mas eu acredito que não. Penso que a maioria dos cidadãos desconhecem a produção nacional de qualidade, seja ela: musical, literária, artística ou arquitetônica. Mas por quê? A razão é bem simples: para os brasileiros o que é importado é sempre melhor, e o nacional acaba não tendo valor. Quanto desperdício! Quantos valores equivocados, quantas mentes dependentes! O movimento de valorização da nossa cultura, iniciado no começo do século XX, ainda segue por um caminho árduo. Mesmo após a Tropicália, o cinema novo, os novos baianos, etc., os brasileiros não aprenderam o que é bom. Gente!! Acorda!!
Já passou da hora de voltarmos nossos olhares para o que é nosso! Para mim, não há nenhum país mais alegre e vivo que o Brasil, e isso se reflete nas artes, na cultura e em nós: o seu povo!

quinta-feira, 1 de março de 2012

O mundo é um moinho





















Todos sabemos que o Brasil já teve muitos talentos não valorizados em vida. Um deles, foi o grande mestre do samba Angenor de Oliveira, o Cartola. Fundador da Escola de Samba Estação Primeira de Mangueira, o maior sambista da história da música brasileira, não teve nenhum reconhecimento em vida. Quando eu digo "reconhecimento" eu quero dizer retorno financeiro, pois, o sambista chegou a trabalhar como lavador de carros de moradores de um edifício em Ipanema. Somente no ano de 1978, quase aos 70 anos, ele conseguiu seu maior sucesso em vida: uma residência própria em Jacarepaguá.

Três dias antes de morrer, recebeu uma importante homenagem em vida do poeta Carlos Drummond de Andrade, que dizia: 

"A delicadeza visceral de Angenor de Oliveira é patente quer na composição, quer na execução. (...) Trata-se de um distinto senhor emoldurado pelo Morro da Mangueira. A imagem do Malandro não coincide com a sua. A dura experiência de viver como pedreiro, tipógrafo e lavador de carros, desconhecido e trazendo consigo o dom musical, a centelha, não o afetou, não fez dele um homem ácido e revoltado. A fama chegou até a sua porta sem ser procurada. O discreto Cartola recebeu-a com cortesia. (...) 

Alguns, como Cartola, são trigo de qualidade especial. Servem de alimento constante. A gente fica sentindo e pensamenteando sempre o gosto dessa comida. O nobre, o simples, não direi o divino, mas humano Cartola, que se apaixonou pelo samba e fez do samba o mensageiro de sua alma delicada. 


O som calou-se, e "fui à vida", como ele gosta de dizer, isto é, à obrigação daquele dia. Mas levava uma companhia, uma amizade de espírito, o jeito de Cartola botar lirismo a sua vida, os seus amores, o seu sentimento do mundo, esse moinho, e da poesia, essa iluminação." 

Me parece muito pertinente a afirmação do poeta de que Cartola é um trigo de qualidade especial, que alimenta constantemente.
Na minha opinião, esse é o grande valor de Cartola, que mesmo após décadas, continua a nos tocar e nos alimentar com suas belíssimas canções. Graças a Deus que condição financeira não tem haver com capacidade de criação artística, senão Angenor de Oliveira jamais poderia nos iluminar com sua poesia.